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AR

 

Cheguei aqui e fiquei parada.

Não conseguia mais o movimento do corpo

à volta do nada e de uma imensa esperança plantada.

sinto as quebras da terra dentro de mim:

os buracos vazios, cheios de nuvens e de ruído nulo.

não se cava a esperança nesta terra de beleza fresca,

está aqui e ali à espera de ser despida, por fim.

sinto a indecisão do céu nos meus pés:

a dança tosca entre uma corrida e um bolero.

Cheguei aqui e não me movi.

Já não era meu o braço, a mão, a perna,

o corpo deslizava sozinho movido por ti.

veio-me à boca a saudade de tudo:

formas geométricas a quererem-se sem pudor;

filmes inventados a preto e branco no fim da rua;

cabelos tropeçados em palavras de amor.

aqui me exilo do mais doce dos segredos:

a tua pele quente e a da montanha nua.

não me lembro da chuva salgada

que parecia vinda da tua boca

nem dos passos que contava desde o entardecer.

apenas luz e uma fome louca

do limite da Terra, da resistência do Ser.

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